O consumo da substância vai muito além do café diário. Fique de olho nas maiores fontes

Quem resiste a uma boa xícara de café? Ok, muita gente resiste e há até mesmo quem não goste do líquido quente com cheiro único. Mas quem gosta vai além disso: ama. Por isso o café virou mania desde que a civilização ocidental se deu conta de seu gosto bom e de suas propriedades energéticas. Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic), cada brasileiro consome por ano 4,8 quilos de café torrado. O sucesso da bebida pode ser atribuído a vários motivos: o aroma, o sabor, ser quentinha... Mas boa parte do que ela traz de bom - e até de mau - vem da cafeína.
Os benefícios de consumir a bebida são principalmente relacionados a um ganho de energia e melhora no estado de alerta. "A cafeína, consumida em doses baixas a moderadas, provoca uma melhora no processo cognitivo e psicomotor", diz a nutricionista Roseli Rossi, da Clínica Equilíbrio Nutricional (SP). "Ainda diminui o cansaço, a sonolência e melhora o estado de alerta, audição, visão, concentração e coordenação motora", completa ela. A ação principal da cafeína é no cérebro. O formato da molécula da cafeína é muito parecido com o de um neurotransmissor chamado adenosina. Um dos papéis da adenosina no corpo é fazer a pessoa "baixar a bola". Isso significa que ficamos mais lentos e também relaxados.
A cafeína se liga aos receptores do cérebro onde a adenosina deveria se encaixar - só que não tem o mesmo efeito. Assim, o neurotransmissor não consegue realizar seu trabalho e o corpo fica alerta. A quantidade exata de cafeína que é preciso ingerir para começar a sensentir os benefícios varia de pessoa para pessoa, depende da massa corporal e do grau de tolerância. Para alguns, basta uma xícara para melhorar os ânimos. O consumo de até cinco xícaras por dia é considerado seguro para a maioria das pessoas. Demora menos de uma hora para que o efeito apareça. Em adultos, a sensação de corpo energizado dura pouco mais de quatro horas. Em mulheres que tomam anticoncepcionais orais, aumenta para cerca de cinco horas. Já no caso das grávidas, a cafeína pode agir no organismo pelo tempo de até dez horas e pode atingir o feto. Por isso, gestantes devem pegar leve na bebida.
Força para os músculos
A cafeína pode atuar também no sistema muscular, dando uma turbinada nos músculos. Em 2009, os pequisadores da Universidade de Illinois (EUA) avaliaram o desempenho de 25 ciclistas (homens), com idade ao redor dos 20 anos. Eles foram divididos em dois grupos distintos: um formado por pessoas que praticamente não tomavam café e outro com aqueles que consumiam cerca de 400 miligramas de cafeína diariamente, algo em torno de quatro cafezinhos.
Para os mais sensíveis, exagerar no café pode causar a
síndrome do cafeísmo. Contração muscular e aceleração
da respiração são alguns dos sintomas
síndrome do cafeísmo. Contração muscular e aceleração
da respiração são alguns dos sintomas
| TUDO QUE É DE MAIS, ATRAPALHA... Exagerar na dose pode provocar mudanças de humor, diarreia e até elevação da pressão arterial. Consumir cinco xícaras por dia (cerca de 400 microgramas) tem lá seus benefícios. Empolgar-se demais e exagerar na dose traz efeitos negativos. O tamanho do estrago vai depender da sensibilidade da pessoa à cafeína. Para os mais sensíveis, seis xícaras já podem causar a chamada síndrome do cafeísmo. "Os sintomas incluem zumbido no ouvido, mudanças de humor, diarreia, aumento da contração muscular, aumento da secreção de enzimas gástricas, aceleração da respiração e do batimento cardíaco, com elevação da pressão arterial", diz a nutricionista Inty Davidson.Embora se desconheça quem tenha morrido de tanto beber café, a dose considerada letal é de 10 gramas, ou seja, 125 expressos em um dia. O quanto uma pessoa é sensível à cafeína depende de seus genes. Foi essa a conclusão de um estudo do National Heart, Lung and Blood Institute (EUA),que mapeou os genes de mais de 47 mil americanos em 2011. Nos bebedores de café, dois deles - o CYP1A2 e o AHR - pareciam ser muito mais ativos. |
As fórmulas de muitos comprimidos de venda livre
trazem entre 200 e 300 miligramas de cafeína e podem
ser tomados a cada três ou quatro horas
trazem entre 200 e 300 miligramas de cafeína e podem
ser tomados a cada três ou quatro horas
| VEJA ONDE ESTÃO OS CAMPEÕES DE CAFEÍNA Compare as quantidades de cafeína contidas em cada uma dessas bebidas. Os dados são o resultado de uma pesquisa realizada pela Universidade de Chapecó (SC). ![]()
Por que está nos analgésicos
As potencialidades analgésicas da cafeína já vêm sendo exploradas há algum tempo pelos laboratórios. São vários os medicamentos que a colocam como ingrediente em suas formulações. "As fórmulas de muitos comprimidos de venda livre trazem entre 200 e 300 miligramas de cafeína e podem ser tomados a cada três ou quatro horas", explica a farmacologista Patrícia Medeiros de Souza, da Universidade de Brasília (UnB). "A cafeína é classificada como uma xantina natural, e age inibindo a ação de uma enzima chamada fosfodiesterase, envolvida no processo doloroso. Assim, é necessário um estímulo maior para que a pessoa sinta dor", completa ela. Os efeitos analgésicos da cafeína são ainda mais intensos quando se trata de dor de cabeça. Isso porque, além da ação sobre a fosfodiesterase, a substância tem também um efeito vasoconstritor.
"Para que os efeitos da cafeína sejam potencializados, é melhor adicioná-la à fórmula do medicamento, em vez de consumi- la como bebida", diz Patrícia. Crianças ficam de fora de remédios com essa formulação, principalmente aquelas menores de 2 anos. "O organismo delas ainda não consegue quebrar as moléculas de cafeína que se acumulam no sangue e podem causar convulsões", explica Patrícia. Aumento da tolerância E não é por fazer parte da formulação de um medicamento que a cafeína perde seus efeitos colaterais. Drogas que levam essa substância na fórmula também podem tirar o sono e devem ser evitadas à noite, a menos que estejam associadas a remédios que causem sonolência, como os anti-histamínicos. Ela também pode viciar. Não significa que a pessoa ficará dependente do remédio, mas ocorre um efeito rebote: cada vez será necessário consumir uma dose maior para que seu efeito seja sentido. Mas isso, se o uso for abusivo. O organismo pode tornar-se também tolerante ao consumo da própria bebida. Os novatos podem sentir-se energizados ao tomar apenas uma xícara de café. Com o tempo, serão necessárias duas para provocar o mesmo efeito, e por aí vai. Esse fenômeno, associado ao prazer que a bebida produz por seu sabor, pode criar os viciados em cafezinho. Há pesquisas mostrando que consumir a bebida três vezes por dia durante o mês já é sufi- ciente para que o organismo passe a pedir mais. Portanto, não se deixe levar totalmente pelo poder sedutor do cafezinho. Aqui também vale o alerta: beba com moderação. |


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